Domingos

Os domingos têm sempre um ar desajeitado, triste, incômodo. Gosto menos dos domingos do que das segundas. Mas, pensando bem, os dias da semana são mais ou menos como pessoas. Há quem seja zangada como a segunda ou barulhenta como a sexta, feliz como o sábado e triste como o final da tarde de um domingo. Eu não gosto de nenhuma dessas pessoas, é verdade. Todos os dias são, para mim, como um final da tarde de um domingo. Triste, pesado, cansado, enfim, sem esperança.

Olho para trás e me esforço pra pensar em um domingo, de fato, feliz. Não houve. Talvez um ou dois, não sei, mas não lembro deles com perfeição, então pra mim eles nunca existiram.

A minha lembrança me arrasta agora para os domingos infelizes, e, talvez por eles estarem em maior número, minha memória me sabote e faça com que eu pense somente neles.

Talvez se hoje fosse segunda, pudesse sentir meu corpo revigorar com a visão do trabalho, de ser alguém, de não ser quem sou.

Mas o domingo... o domingo faz com que eu reflita, e ao refletir, vejo quem sou. Eu não quero ver, realmente não quero. Melhor seria pôr a máscara do dia a dia, sair para a rua, cumprir minha jornada de trabalho e voltar pra casa satisfeita por colocar o pão na mesa. Mas o domingo me deixa completamente indefesa, despida, sem máscara. Sozinha, comigo mesma, não existem máscaras. E esse é o meu medo, o de ver, no escuro, a essência do meu verdadeiro ser. Sem forma e vazio, sim, devo confessar. Sozinha, sou obrigada a me ver e, no entanto, não gosto de ser vista.