Como pequenas estórias

Me sinto deslocado aqui

Sem saber se faço parte

De alguma categoria que não existe

E que quando, talvez, existir

Eu não exista mais.

Então essa categoria será qualquer coisa

Menos eu. Inacabada.

Categorias inacabadas tendem a virar

Estórias que inspiram a busca

Pela completude, que não chega

Porque eu não estarei aqui, nem você

Nem nossos nomes, nem nossos pensamentos

Pois nossa ausência será notada.

Não “nossa” ausência de fato, mas

Essa alguma coisa que nós somos

E nunca descobrimos em vida,

Já que estamos ocupados tentando ser algo,

De algum lugar, para alguém

E de qualquer maneira buscamos

Definições pra depois cuspi-las dizendo

“Sou assim mesmo, um ser incompleto”

Que se define como indefinível,

Não compreensível, inacabado

Igual à categoria que procura

Assim entrando nas estórias

Mas não pra História, pois esta requer

Inícios, meios e fins

E estamos sempre no meio

Não começamos nada, nem terminamos.

Nem criações, nem legados,

Nem revoluções, nem guerras,

Nem metamorfoses, nem ditaduras.

A gente sempre chega quando já começou

E sempre sai antes de terminar.

Nem pra trás, nem pra frente

Um crescimento estático, reverso talvez?

Pois, então somos todos assintomáticos

E ninguém aparenta nada aos olhos de ninguém.

Todos suspeitos de carregar o verme mais

Nocivo à saúde da roda que gira e gira

E gira até que chega nossa vez de subir e

Descer e subir e descer e subir e tentar

Ficar lá no alto e cair com um chute.

Mas até quem já está embaixo é empurrado

Porque a roda precisa girar e girar e girar

De novo, com outros ocupantes, também

Não cabíveis, incompletos e sedentos

Por um lugarzinho mínimo na História

Numa categoriazinha qualquer, porém

A roda raramente permitirá isso

Fazendo com que sejamos sempre um monte

De inspirações que levam nada a lugar nenhum,

Um monte de estórias inacabadas.