O decreto
Anteriormente cogitei manter sua imagem projetada em meus escritos sinceros, mas os cenários da vida mudam e com eles vão pretensões fúteis.
Manter vivo alguém que nunca mais será a pessoa que um dia trouxe inspiração e esperança é alimentar e fortalecer a evidente inutilidade.
Apesar da morte ser extremamente dolorosa, às vezes ela é a responsável por nos fazer viver.
Preciso vivenciar o luto por quem nunca mais voltará, abandonar de vez a impalpável memória.
Não é uma finitude corpórea, mas sim de tudo aquilo que acreditei e senti desde que o vi.
Enquanto não tirar seu antigo ser das letras que materializam minha saudade fantasiosa, nunca o tirarei dos meus pensamentos inconscientes e abstratos.
Decidi cometer um assassinato bibliográfico de uma efêmera versão humana, onde a sentença cabe ao tempo ser declarada.
Lamento que o elogio fúnebre não exista, mas espero que tenha sido suficiente o decreto daquela que tanto o amou.