Vigésimo primeiro dia
"A quarentena de um poeta"
Vigésimo primeiro dia:
Mais um domingo de sol e o mar sofrera com a ausência dos banhistas que o invadem a querer receber suas ondas e como se fosse uma rebeldia, ele ressacara.
Mas o calor dos subúrbios seduzia os bares clandestinos a convidar os que não acreditaram que o risco era enorme.
Um pedaço do sangue iria nos salvar, seria uma boa notícia, contudo dependeria de algumas confirmações. Mais uma vez se afirmaria que não pode haver distinção de cor e posição social dos seres humanos nesse fato social. Os restaurados indivíduos teriam em seus plasmas os anticorpos que sustentariam o tempo necessário para sobrevivência e isso aumentara o meu otimismo.
O pobre salvaria o rico, o preto salvaria o branco, o empregado salvaria o patrão, a tiete salvaria o ídolo, o paciente salvaria o médico, o filho salvaria o pai, e surgiria mais inúmeros paradoxos deste cenário de guerra contra o temível invasor de corpos.
Durante um pronunciamento na tela, foi triste ouvir de uma autoridade que seria um caso a pensar sobre a possibilidade de liberar a quarentena de duas cidades que não apresentaram problemas, o que estava a indicar que se contradizia a ideia que algumas pessoas eram assintomáticas e isto era a grande arma do inimigo.
No entanto existia uma esperança e devíamos nos unir cada vez mais e infelizmente teríamos que nos escrutar, pois o mais potente dos capitalistas poderia estar a desviar alguns insumos da guerra.
Apesar de sermos em maioria homens de bem, há os que desejam o mal a pensar somente em si a não nada saber dividir, é o surto da maldade:
Surto da maldade
Homem demente no mar de rosas
A prememeditar a morte
Por motivo torpe,
Mata os sonhos e se mata
Se condenado à escuridão
À custa de um pecado capital
O homem escolhe a sua sorte
A morte sem perdão
Não há valor nesta vida
Nem na volta, nem na ida
O surto é curto como o tiro
E longo como uma machadada
Que mundo cruel! Esse,
Talvez seja cá o fogaréu
Mas há a certeza de que lá
Haverá crianças a brincar no céu