Prefácio do livro Mantas&Lençois de AJFontes por Ed Arruda
 
     Caro leitor, obrigado por aceitar o desafio. A Pedra de Bolonha é sua. As narrativas o conduzem ao prazer da leitura e competem entre si pela conquista dos lúmens da grande luz. Não hesitam em lhe ocupar as mãos, prender-lhe o olhar, acompanhar-lhe o pulso e de súbito, ouvi-lo soltar o ar de uma só vez, puxa! Sim, o autor é maestro. Escolhe e deita as metáforas na pauta em clave de Sol para que você as despertem sob o acorde da exclamação.
     Em O belo, o conduz à casa de descendente português, o inebria com os aromas do bacalhau e do vinho, esconde a pérola na sobremesa de Goiabada Cascão com fatias de queijo do reino. Que revelação dorme naquela carta?
Em sequência lhe retira o conforto. Sim, o que espera? Aboletar-se em sua poltrona? Cuidado com os espinhos, a estrada é de terra seca e poeira. Esqueça as comidas e bebidas requintadas. Abra o apetite para o pão, biscoito, carne presuntada e aguardente. Tempos difíceis, proteja-se, há uma perseguição ao encalço de bruxos.
     Depois do embate, tiros ao final da tarde, relaxe. Acompanhe o passeio do Juvenal. Descubra que a vida palpita, que do facho de luz da juventude, fragmentos da pedra de Bolonha formam a constelação da maior idade. Ao fim do passeio, pegue carona no Sputnik II. Ao desembarcar, respire o ar do Agreste, siga as ondas do rádio e acompanhe desde a puberdade, a aventura da vida de um jovem. De volta a Terra, não se escapa do inferno cotidiano. O ladrão, a polícia, o povo na praça. Afinal, quem roubou o cordão com a imagem do santo? Se encontrar, aponte o meliante e devolva a joia. A senhorita e o santo agradecem.
     Vestido de chita, carro de boi, brinquedo de barro. O sentimento desperta no mês junino quando a capital se esvazia pela procura do interior. O autor rega as lembranças, captura o agito dos corações, as armadilhas do amor. A fumaça do café, o cheiro do cuscuz e do charque assado escapam da barraca de Matilde. Veloz como os dias de hoje, um ônibus sobe a calçada, arremessa os sonhos de um homem contra a vitrine, mistura cacos de vidro e sangue ao cabelo cacheado da morena.
     O místico. Uma manta que oferece invisibilidade a quem abriga. Ninguém se fere no combate entre os três homens na pousada de beira de estrada, mas a troca da manta pelos lençóis, descobre o fio de suor iluminado pela estrela mãe entre os peitos da cabocla. O Vermelho e Oliva tentam roubar a cena. Roubam a esperança, o beijo de livros. A mãe garante ao filho, os seus estão seguros, os ares são outros.
     O desejo, potência que impõe à natureza a necessidade de duas sementes para produzir a cria, arrasta e arremessa ao perigo o fazedor de pão que enfrenta marido ciumento, cachorro brabo, salta muros, só estanca diante de uma peixeira afiada nas mãos de uma esposa descontente. O mesmo desejo de mãos dada à miséria aliena e estaciona criaturas às margens de córregos cinzas.
Leia com carinho a sua Pedra de Bolonha, a história diz que ela absorve a luz do sol e quando escurece libera. Esta possui doze fachos de muitas candelas.
                                                           Escritor Ed Arruda