Minha varanda

Minha varanda fica no alto

E, do alto da minha varanda,

Eu vejo, nas madrugadas,

O guarda-noturno a rondar pela rua

E os ladrões a rondarem pelos telhados vizinhos

Vejo as pernas das meninas que, descuidadas,

Passam dirigindo seus carros

Vejo, por cima, os operários esperando seus ônibus

Quando chove, vejo enxurradas carregando entulhos

Vejo motos, do correio, trazendo embrulhos

Mas que não vejo o remetente

Um pouco ruborizado, olhei por janelas indiscretas

E até me senti como um penetra...

Mas não evito nunca o pecado

Vejo toda sorte de gente

Pessoas correndo, e se abraçando contente

Como se não tivessem marcado encontro

Mas também já vi lágrimas em desencontros

Quantos garotos soltando pipa

Que por vezes caem em meu telhado

Ou se prendem na rede elétrica

Da mesma altura da minha varanda

Onde os passarinhos assentam nos fios

E escrevem estranhas partituras

Nunca lidas por um maestro

Da rua poucos me veem

Pessoas com algo entretidas

Que se esquecem de olhar para o alto

Não sabendo que ocupam o palco

Protagonizando todos os fatos

Que do alto da minha varanda

Eu assisto a cada ato

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 05/04/2020
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