Minha varanda
Minha varanda fica no alto
E, do alto da minha varanda,
Eu vejo, nas madrugadas,
O guarda-noturno a rondar pela rua
E os ladrões a rondarem pelos telhados vizinhos
Vejo as pernas das meninas que, descuidadas,
Passam dirigindo seus carros
Vejo, por cima, os operários esperando seus ônibus
Quando chove, vejo enxurradas carregando entulhos
Vejo motos, do correio, trazendo embrulhos
Mas que não vejo o remetente
Um pouco ruborizado, olhei por janelas indiscretas
E até me senti como um penetra...
Mas não evito nunca o pecado
Vejo toda sorte de gente
Pessoas correndo, e se abraçando contente
Como se não tivessem marcado encontro
Mas também já vi lágrimas em desencontros
Quantos garotos soltando pipa
Que por vezes caem em meu telhado
Ou se prendem na rede elétrica
Da mesma altura da minha varanda
Onde os passarinhos assentam nos fios
E escrevem estranhas partituras
Nunca lidas por um maestro
Da rua poucos me veem
Pessoas com algo entretidas
Que se esquecem de olhar para o alto
Não sabendo que ocupam o palco
Protagonizando todos os fatos
Que do alto da minha varanda
Eu assisto a cada ato