Vai passar.
São tantas coisas
sonhos espalhados
versos guardados
em um caderno antigo
depois que veio a loucura
da vida agitada
adormeceu o poeta que havia
a culpa é da tecnologia
correria
ganhar a vida
compromissos de agenda
tão intensos
que não deu tempo de chorar
no dia em que ela partiu.
Urgia caminhar com o coração "remendado",
colando os cacos
na tentativa de seguir
como um desacato a dor da perda
e como se nada houvesse acontecido.
Veio a noite
acelerando
no adormecer forçado por algum remédio
e o caos precisava dar um tempo
pois não pudemos nem lamentar nossos mortos
porque o "compromisso" estava a chamar.
De repente uma criatura
um vírus da China
e a terra parou como disse Raul Seixas
o mundo parou
em uma comoção global.
Desaba bolsas
empregos
(a viagem sonhada vai ter que esperar)
com muitas repercussões
outra forma não há.
Na prateleira está faltando papel higiênico
(que estranho)
somos agora mascarados
a nos proteger,
precisamos voltar para casa.
Olhar para os olhos
de quem não tínhamos tempo para ver.
Olhar para dentro de nós
agora nada mais importa
(o eletivo foi adiado)
a urgência agora
é se manter vivo
sobreviver.
O que me conforta
é essa voz que sussurra,
como se fosse minha mãe a me dizer,
quando algum mal ameaçava:
-Vai Passar...