Quando você foi embora.
Sou prisioneiro da linha do horizonte:
Sempre tento enxergar mais longe que o pôr do sol.
Nesta pedra, a onda quebra e alcança-me,
Meu coração se molhou de tristeza e não tenho você pra enxugar-me.
Quanta tristeza existe entre o meu olhar e pôr do sol?
Quanta tristeza não escondi de ti quando sorria?
Agora não importa mais.
Depois que você foi embora o meu coração abriu falência,
Tive que alugar o quarto mais luxuoso para a tristeza.
Triste saber que nunca mais vou te tocar com os meus olhos,
Abraçar-te com pensamentos.
O que fazer com sentimentos que você não quer ter e não pode amputar?
Depois de tanto tempo com uma pessoa, os dois se moldando,
Como se divide o que é seu e o que é dela?
Como passar por lugar que é tão meu e tão dela?
Eu deveria sentir raiva de você depois de tudo? De você ter ido embora?
Não sinto, não é por você ter ido embora que preciso ver tudo cinza,
Tenho que cultivar o momento, aquela fração de momentos que você esteve comigo.
No final todos vão embora mesmo, e tudo se acaba,
Tristeza e alegria se transformam em poeira cósmica,
O que vale é o momento.
Sempre existiu e existira futuro sem você,
Eu não queria este futuro,
Mas disseram-me que você está bem, então vou tentar ficar bem.
Estou tão cansado e esgotado de tentar ser feliz,
Mas vou tentar ficar bem, devo isso a você.
Quando vi que você queria ir embora prometi que ia ficar bem.
A tua felicidade seria uma festa que não gostaria de faltar de jeito nenhum,
Nem que eu ficasse no canto, como um penetra, só observando.
( E.P. Coutinho)