Costuro paixões em zigue-zague no tecido de seda que abarcou minha vida desde a concepção. O vento vai sacudindo o pano e nele os sonhos vão se distanciando e alçando voos que sopram liberdade. A soberana lei da gravidade, por vezes veloz, se aproveitando da fragilidade de alguns deles, os traz de volta, contaminados pela realidade, cruel e saqueadora da inocência dos contos de fadas. Quem dera pudesse alvejar os sentimentos dispostos no cesto e manter a alma limpa das sujeiras enraizadas, colocando-os para secar no varal, tingindo-os de esperança até que possa recolhê-los, agora (re)pintados, e retirar os seus amassos, resultado do movimento neles impressos, ou quem sabe dos pregadores que marcaram o tecido sob pressão, afim de segurá-los, como se não pudessem, por vontade própria, sair do lugar comum e tivessem que atender as expectativas. Ah, as paixões... Presas à memória por uma linha de fibra óptica capaz de (re)conectar a pureza de uma menina à complexa racionalidade de quem já tirou do varal muitos sentimentos encardidos, impossíveis de serem (re)aproveitados. E no afã de saciar os desejos que traçam ponto duplo para embainhar a liberdade, ao ar livre, sacodi os retalhos e, por um instante, vi paixões, avassaladoramente, (re)batendo na face, tirando meu fôlego, bambeando as pernas e se despedindo... Restou-me, apenas, uma sensação de frio. O vento forte e a areia fina, antes nunca vista, cegou-me: minhas paixões, meu deserto!