Cais

Eu não sabia a hora de rasgar todas as cortinas. A ponto de me infiltrar na luz da subestação, no labirinto que eu mesma construí. Tive que me acostumar com vida de marujo e a despedida era ao mesmo tempo encontro. Cada porto, silêncio. Terminada as rotas entreguei minhas comendas. Fui regida por pequenas chuvas através da janela até embalar-me enfim numa cara limpa, transcedente, mais viva e pulsante. A caneta se deixa fluir ao doce toque do papel com cobertura de cassis: para adoçar o cais, estação de sonhos, âncora de paz. Sempre existe uma saudade bem dobrada na mala.

Cristina Carla de Lima
Enviado por Cristina Carla de Lima em 31/03/2020
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