Mastigando bolachas e a resiliência
Nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer.
É o que empurram desde o jardim de infância.
Não me falaram nada sobre o
que acontece nesse meio tempo.
Não me disseram nada sobre
as traições, a raiva,
o tempo perdido em filmes e livros ruins,
as camisinhas estouradas em meio às madrugadas,
o desespero,
o vazio.
Não me falaram sobre o cidadão que se jogou na frente de um ônibus
e de como o seu cérebro, fezes e órgãos se misturaram no asfalto quente.
Eu era criança e tive que ser "protegido" disso.
Ninguém te avisa que a vida é mais do que escovar os dentes ou limpar a bunda depois de cagar
ou que você tem que matar por cada centímetro de chão.
Você aprende isso em puteiros horríveis, em espeluncas repletas de "irmãos de causa", em hospitais públicos ou até mesmo levando tapas da PM.
Você não absorve nada realmente útil e nem de bom
com gente "boa", principalmente com os que se dizem bons.
É tudo enganação barata
passada desesperadamente de pais para filhos, como doenças genéticas.
Faça isso ou aquilo
aceite isso, aceite aquilo
estão te torturando e esfarelando os seus ossos
e cuspindo na sua cara
e lhe roubando cada centavo
e cada fagulha de algo bom que habita em você, mas aceite
aceite, aceite.
Tatue resiliência em seu rabo e espere tudo dar certo.
Piada.
Você só acorda quando
passa a lutar e questionar até o ar que respira e pensa "aceitar é o caralho".
Afinal para quê tanta covardia? Não há nada demais em todo esse nosso teatro sem fim.
A lua cheia é apenas a lua cheia,
as ondas do mar não são mais do que as ondas do mar,
as estrelas não são mapas nem entes queridos, são talvez os olhos felizardos de Deus rindo por estar tão longe.
As pessoas que você ama
cagam, mentem, choram e morrem por você,
e no fim, quem liga?
Não tem nada de belo em nada disso
assim como não tem nada de belo no canto de um pássaro engaiolado,
assim como não tem nada de belo no nascer do sol,
a sua luz apenas beija a minha pele ressecada
e se vai.