Natureza In Natura

Meus olhos repousaram no céu hoje quando acordei, quando saí na parte externa da casa.

Olhar para o alto foi enxergar numa nitidez nova. As nuvens, como cabelo alvo de ancião, destacavam brilho diferente, como que lavadas, e ao fundo, o azul encorpado invadindo a visão.

Logo que precipitei aos fundos de casa e ter levantado a visão, alcancei as asas de um gavião que fazia voo rasante sobre o céu, um pouco acima dos muros. Ouvi suas asas tremularem no silêncio, até desaparecer.

Senti a mudez minha comungada com a dos vizinhos, neste pouso forçado de todos, aguardando a coesão estabelecer-se na vida diária.

Senti por alguns instantes a obediência hierárquica dos humanos ao chamado da natureza, para que se aquietem, façam tudo de modo pensado, para que ela se reordene, ressignifique em meio à desordem que não deu causa.

retirei para dentro, busquei argumentos para o consolo, cavouquei razões para extrair do interior um til ou ao menos um ponto de um i para criar versos, não recebi nada, a não ser o nada que invadiu a sala trazendo a cantiga de um bem te vi, que de uma árvore próxima cantava, como sempre fez.

Logo, outro passarinho, como é de costume, entrou apressadamente na cozinha, roubando um farelo de pão que havia caído no chão ao redor da mesa, saindo apressadamente batendo as azinhas.

A natureza continua seu curso, indiferente com o que está acontecendo com o reino dos homens.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 30/03/2020
Código do texto: T6901805
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