Navegante
Na imensidão do mar alto, entre céu e mar, o medo paira. Anunciou-se tempestade, com ventos poderosos e procelas gigantes. Tudo começa a revirar-se lá fora. Tudo dispara aqui dentro. Há procedimentos, meios, ações a serem executadas. Há preces e gemidos de piedade. O navio lembra um barquinho de papel descendo a enxurrada nas sanjas da rua... O navio é fustigado, quase mastigado pelas águas que lhe açoitam o proa e o convés. Parece ter ido parar numa grande máquina de lavar roupas. E bate, bate, bate. Bateu até cansar de bater. Mas tudo passa... A tempestade passou... O navio, velho navio, resistiu, não se partiu, não afundou. O dia traz uma luz brilhante de um sol calmante. As águas do mar se deixaram filtrar pela luz clarividente. Existe uma paz que se pode até tocar. É bonito demais apreciar o tempo fazer as pazes com o homem... O trabalho, agora, é de consertar, remendar, colar, limpar. É de procurar a bússola, checar a rota, ter um caminho. Renascer, agora, é trabalho de muitas mãos e muitos corações.