Primeiro dia
"A quarentena de um poeta"
Primeiro dia:
Era necessário realizar alguns exames no laboratório de minha cidade vizinha, pois ainda me queixava de calafrios intermitentes pós cururgias de retirada de uma enorme pedra no ureter e respectivamente o cateter. Aprontei-me para logo depois seguir para o trabalho, mas já ouvia rumores sobre a paralização das escolas. Compreendia que as crianças não deveriam estar expostas, mas não concordara com algumas ressalvas do prefeito. Com a cabeça voltada para o problema da possível invasão de um vírus severo em nossa região, fiz os exames e me coloquei no grupo de risco. Não bastava as informações dadas pela mídia, eu precivava saber se era impreterível a minha presença no ambiente de trabalho, mas não obtive nenhum contato. Quando tentei dialogar com alguns líderes da Unidade Escolar, recebi uma resposta tão desagradável e aborrecedora que resolvi pegar o meu notebook e levar para a minha residência a executar em home office possíveis afazeres. Tão aborrecido eu estava a xingar mil palavrões por não entender a fragilidade das pessoas que coordenavam um grupo escolar. No caminho para casa onde da janela do meu quarto eu assisto ao longe o mar, eu soltava fogo pelas narinas e a mil quilômetros por hora, eu culpava os que ignoravam a praga que penetrava em nosso mundo os chamando de "tolos".
Abri a porta e o apartamento vazio me dava uma sensação de segurança, pois fazia alguns dias que não o frequentávamos. Mas aquele momento de solidão despertou ainda mais o medo de perdermos os entes. A geladeira estava vazia e o mercado ao lado me convidava a percorrer entre as gôndolas a escolher os produtos cotidianos.
Observei dezenas de idosos a encher seus carrinhos e fiquei perdido a não saber o motivo da contradição ou da simples coincidência. Ao retornar para casa encontrei Alice com uma intensa preocupação com seu velho. Minha vontade era de trazê-la para os meus braços, mas imediatamente corri para o box do banheiro e sob os jatos da água gelada eu refletia e pensava:
Havia uma pedra no meu caminho
A me tontear de dores
A impedir a chegada ao ninho
Que sonhei pousar
Todavia, Deus me manobra
E cobra baixo o meu preço
A colocar anjos de sobra
A me guiar
Os amigos que me aconchegara
O doutor que me assistira na madrugada
A senhora que me abraçara
E os que pausavam a pancada das águas
Os holofotes e o tapinha no meu ombro
Foram os últimos antes do meu sono
E ao acordar não existia mais a pedra
Havia Maria a me mimar