19 de Março
• O mundo está doente. Estamos em 2020. Há exato duas décadas esperávamos o fim do mundo. Parece que chegou. Triste geração acometida por esse mal que até aqui se mostra incurável. Eu, trêmulo, temo que o meu lar esteja infectado. Os meus tossem. Aprisionados por um terror que nos adoece mesmo antes do vírus, vejo de longe a morte. Morte, morte, morte que talvez seja o segredo dessa vida. Já cantei isso antes. Hoje a temo. Sei que do sol virá nosso socorro. Seus raios aquecerá nossa alma, como sempre foi, mas o pânico invade sala adentro. Olho pela sacada e imagino quem terá a honra de ser o primeiro. Quem será o primeiro hospedeiro. Quem morrerá. Volto agora meu olhar ao céu. Não ao Sol, que irá nos aquecer, mas ao céu onde acredito reside o criador. É uma praga? Um recado? Ou é mesmo a dissolução da raça? E por quê? Logo penso em Harmonia. Não total, impossível. Uma convivência harmoniosa entre minhas criaturas me agradaria. Falo por mim. Durmo com surtos de pesadelos. Como acordarei amanhã, verei corpos isolados, amotinados por todos o lares confinados? Serei um corpo confinado? Todos estão temerosos, uns mais, outros totalmente. Não ouso embriagar-me, quero ouvir, lúcido, meus pulmões, sempre bem cuidados, agora covardemente apunhalar-me, literalmente, fenecendo assim meus dias. Choro, lágrimas e desespero. Hoje eu perderia a guerra, amanhã porém, se vivo estiver, quem sabe. Alguém precisa sobreviver. O mundo está doente.