...Ane

Sabe, um dia caminhando pelos corredores, pensei brevemente que eu deveria sentar, descansar e quem sabe, até, me permitir suspirar um amor inexistente.

Eu sei, eu sei... você não espera que haja telas em branco em todas as pessoas. Mas se você sorri, se você mexer em seus cabelos; balançar o perfume das raízes, talvez possa haver no ímpeto pulmonar de algum fumante parcial a delicadeza de te cumprimentar, sacudir seus músculos, arrepiar a pelagem do teu corpo pequeno e frio, totalmente liso...

Eu juro que pensei tudo isso, fiz cafuné em meu próprio pulso, respirei o ar de um inverno prometido que insiste em não chegar.

Você me veio num dia inteiramente ensolarado (o que é profundamente desagradável pra mim), e nessa fervura de tédio e desencontro, pude ousar um "oi", e caracterizar a vontade em suprimir o campo que a cercava, das unhas dos seus pés pequenos ao circulo dos seus óculos limpos. Não sou assim, sabe, meu bem... sempre vulgar nas palavras... eu sou defeituoso também, insisto em querer tocar o "sim" dos outros, dos seios à alma.

Quando você supera a ideia do encontro, a mentira do conhecimento, o infortúnio da experiência, você também abre uma vaga a mais no seu universo inteiro: as pessoas são para você muito antes que "talvez" possam ser.

Eu me levantei, recoloquei meus fones samsung-brancos, tomei no peito uma vista que devastou meus pensamentos, inundou meu humor. Era você. Não anotei o dia nem o horário, mas guardei teu rosto.

E o perfume que imaginei que tinha, me embriagou ardentemente.