TEMPO ALHEIO
Há um tempo paralelo ao nosso, fluido, inesgotável, vazando sem peias e controle.
Não o observamos em nossa própria face, nem percebemos seus imperceptíveis sulcos nas células que insistimos em ajuntar.
Percebemo-lo, de repente, num choque misto de espanto e estupor, quando observamos suas evidências no corpo dos que nos são mais velhos ou envelhecem conosco.
Ele estivera o tempo todo ali...,
correndo em raia invisível e paralela à nossa consciência,
fazendo os mesmos estragos nas vaidades e orgulhos partilhados.
Como subconsciência, concorrendo como oponente ao nosso espaço-tempo pessoal.
Só observando o tempo nos rostos alheios, damo-nos conta, num átimo afastados de nós mesmos,
que nosso tempo também concorre pela derrocada de nossas forças, ilusões e higidez.
Cada um Universo paralelo, um escoamento e um aprendiz, esvaindo-se indiferente à toda vontade de permanecer jovem, hirto e enamorado...
O tempo do próximo escancara o nosso próprio, e ambos riem de nossa cegueira e ignorância.
Toda necessidade emocional também está fora de nós.
Dez/2009