Para longe

Destemido, o trem percorria os trilhos que nos levava ao rumo de mais uma memória viva e atemporal. Um vislumbre ao que deixamos para trás no sutil embaço das janelas, as imagens esvaindo lentamente, os rascunhos de cartas amassadas e jogadas fora. Uma leve bagagem ocupando o assento vazio, seu peso repousando gentil em meus braços. Entrelaçamos nossos corpos em necessidade de calor, conexão e silêncio como o conforto após o impacto da tempestade.

Constelações em seus olhos,

Astros de pontos gêmeos.

Não há certeza maior

Ou razão melhor justificada.

A velocidade imperceptível da máquina era uma antecipação, um convite a imaginar incontáveis possibilidades que carregavam cada mínima decisão que nos deslocavam para fora de desavenças, cicatrizes e conflitos irracionais. Sem mais noites de brigas, sem mais protestos contra necessidades por liberdade, sem mais machucados como punição à desobediência, eu prometo.

Você fora um impulso, um motivo súbito que me fez virar o mundo de ponta cabeça, mas jamais pense que eu faria o mesmo se não houvesse sua presença como a quebra de minha hostil inércia. Meu anjo, minha flor, meu amor. Nunca mais tenha medo de encontrar seu próprio equilíbrio em seu próprio tempo, nunca mais pense que não estarei de volta por mais tarde que seja, nunca mais desacredite em palavras como uma alternativa para sarar suas feridas abertas.

O oceano desmancha

E leva embora o passado

Para uma distância

Infinita e inalcançável

De nossa terra firme.

Suas pupilas fechadas,

Lágrimas evaporadas

E desvanecendo ao

Aproximar do Sol

Que ofusca nossas visões.

Uma manhã de um dia inaugurado em nosso calendário, sob o reflexo de suas chamas no horizonte somos banhados, revelados e propositados enquanto mais próximos estamos. Jovens e desamparados, fomos uma moção inconstante em nossos capítulos. A locomoção para, emite-se o som de freio, a voz anuncia as sílabas da estação, seus olhos se abrem, seus olhos se compõem, seus olhos me encontram.

Chegamos.