Monólogo ao pé do espelho
Quando está de ressaca
você sempre diz que vai parar de beber
e que vai focar só na maconha,
mas no outro dia, está de porre novamente.
Outra coisa, você tenta permanecer impassível,
mas se apaixona fácil demais,
passa dias pensando
em qualquer mulher que viu
no mercado ou
em um dobrar de esquina.
Agora mesmo está
de olhos fechados na janela
sentindo o vento na barba
e lembrando daqueles cabelos negros, daquele rosto sério e forte
que viu ontem no ônibus.
Lindos peitos…e que porte…porra.
De que vale uma vida sem paixões?
Se faz o coração bater mais forte,
que venha, me absorva e me atormente.
Para vencer desejos, devemos ceder a eles,
Wilde cansou de dizer isso.
Wilde mofou numa prisão até se arrepender
por ser tão verdadeiro.
Sofrer sozinho, arrependido e traído
num cubículo, apenas por ser verdadeiro.
E qual a surpresa?
Não há.
Não é só isso, seu problema
é que escreve para os outros.
E, quando você não está
escrevendo para os outros,
está escrevendo tanto,
mas tanto, para si mesmo
que ninguém entende uma linha
do que você diz,
ninguém a não ser o seu eu lírico.
É o famoso 8 ou 80
O segredo é ficar no empate,
Nem tanto lá, nem tanto cá, sabe!?
Segredo de quê?
Você sabe.
Não, não sei.
Então meu problema
é ter um fraco natural
por quase qualquer mulher que vejo,
escrever para os outros
e escrever somente para mim mesmo?
O que porra é essa?
Cada doido com sua loucura.
Tem quem chame de intensidade.
Tem quem chame merda de mito também.
Bem, esquece o que eu disse,
Escreve.
Apenas escreve.