inventando deus
tudo quanto peco e rezo é em nome de um deus que eu inventei menina.
vivia paradinho a espreita de um pecado, doido pra ser chamado e acudido. ficava rezando pra si mesmo, de joelhos em frente a um eco, com dedos cravados.
era mesmo ali quando eu corria depressa de volta pra casa. o chão ia ligeiro e o viaduto ficava querendo ser céu. aí eu ficava pensando com meus dedos-baliadeira derrubar um passarinho. interromper sua natureza de voo. um pecado manso que se encravou no meu peito e demorou demais pra ser perdão.
menino também é ruim. menino é o cão quando quer. dizia dona Inácia me benzendo enquanto o sino da igreja chamava as beatas. nesse tempo já fazia tempo que deus me perdoava.