O MAIS ESSENCIAL

Nunca existiu tanta solidão mesmo com tantas facilidades de comunicação, e também mesmo com a praticidade dos acessos rápidos para a interação humana e à partilha de informações em tempo real.

Nunca houve tamanha falta de calor humano como a que vemos hoje em dia através dos milhares de aglomerados de pessoas perambulando com sua frieza interior pelas ruas do descaso e pernoitando na vida agitada das sombrias metrópoles, cuja única ânsia é satisfazer os seus prazeres mais egoísticos e insípidos.

Por incrível que pareça, é possível estarmos sozinhos e, mesmo assim, estarmos plenos mediante a nossa riqueza interior e a nossa secreta religiosidade. Mais incrível ainda, é saber que podemos estar rodeados de pessoas e, ainda assim, vivenciarmos a dor do vazio e da solidão criando espessos buracos em nosso coração.

O mais importante não é fugir da solidão buscando subterfúgios para minimizá-la, pois às vezes a solidão pode ser até um recurso salutar para a elevação e o auto-comhecimento; mas sim encontrar uma maneira de viver mais impregnada de sentido existencial, de paixão pelo sagrado, de amor pela experiência da transcendência da vida, de respeito pela aventura das mais fecundas relações interpessoais e de uma riqueza espiritual transbordante de sabedoria.

Bem mais importante do que estarmos rodeados de dezenas ou centenas de pessoas tão estranhas ao nosso jeito de singelo de viver, pessoas essas focadas apenas numa mera representabilidade social que não condiz com a sua verdade mais íntima e pessoal, é caminharmos ao lado de quem não dissimula o seu real caráter, de quem busca viver na transparência de sua singularidade. Ou então, bem mais importante do que manter amizades com aqueles indivíduos inflados por um ego que só oferece uma emoção instantânea e impetuosa como uma droga cujo efeito prazeroso é passageiro e deletério, é vivermos ao lado de seres humanos que nos ama independente de quem somos e que nos ajuda a viver sob a luz das coisas mais verdadeiras, singelas e essenciais da vida.

E isso só é possível quando valorizamos mais a qualidade do que a quantidade, as relações autênticas, em vez desses vínculos apenas motivados por status. Embora sejam escassos como flores exóticas, precisamos de exemplos de integridade para enriquecer o nosso caráter. Ora, são exatamente aqueles que nos oferecem o melhor do seu ser, aqueles que mostram quem de fato são, mas sem prejudicar a convivência, os que mais transformam o nosso modo de ver o mundo e nos faz reconhecer o valor do abraço que brota de sua alma.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 20/03/2020
Reeditado em 21/03/2020
Código do texto: T6892215
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