Enigma esvaído

Aturdido e de palavras roubadas permaneço em análise dos mínimos detalhes que compuseram a cena: Fumaça efêmera surgindo entre nossas distâncias, amor como um conceito ainda indefinido, suspeitas discretas de cada emoção reprimida, perfume ainda presente em cada parede despedaçando em ruínas. Sou uma consequência viva, a prova de que fomos linhas de uma poesia concreta, letras concebidas de uma inspiração fatídica.

Passear entre os corredores onde ocorreram os motivos de meu cair esclarece a mim tudo o que fora dito, o rumo de nossos discursos incoerentes, as vozes perdendo calma, mentiras e inverdades usadas como armas e instrumentos de autodefesa. Você sabe bem que isto é um impulso de meu remorso, a culpa que escreve confissões que nunca cederíamos um ao outro.

Ruas apertadas de uma cidade pequena, rodovias repletas de um trânsito obsoleto, calçadas banhadas pela saturação de um Sol indiscreto. O cenário jaz funcionando como se nada ocorrera, como se ainda caminhássemos pelos mesmos atalhos de volta para casa, como se ainda entrássemos nos mesmos lugares especiais em finais de semanas descompromissados.

Você é uma peculiaridade fascinante, um segredo que instiga minha curiosidade a tentar, mesmo que em falhas, desvendar o que causara todo o estrago. Não irá escutar tudo o que eu tinha a dizer? É uma decepção arquitetada em cada uma das circunstâncias deste todo. E estive fixado nas maneiras de te descobrir, de procurar uma certeza nas linhas de seu rosto, um traço sequer que me ajude a traduzir as respostas em seus olhos, de encontrar uma razão restante que me dê ao menos um válido propósito.

Porém é impossível de compreensão, um mistério de inalcançável solução. Não há pistas que levam a alguma verdade, nenhuma evidência que me evoque deduções conclusivas. Há peças faltando em ti, reminiscências de seu ser incompleto. Um enigma o qual me prendi à ilusão de que haveria muito mais que a ambiguidade de jamais conhecer seu significado.