COMAMOS E BEBAMOS, PORQUE AMANHÃ... MORREREMOS
"Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os
imbecis têm o mesmo destino"
(Voltaire)
Quem me garantirá que haverá depois desta vida um céu
[que venha compensar todas as minhas torturas deste prazo?
Oh! Saudos'alma, a que neste instant'então pranteia!
Do infante a qu'eu em tal grau fui... e no gozo da paz quanto dormia!
Por que não me busco pelo tanto que me perdi?
E por que nest'hora demasiadamente me afogo em meus prantos?
E na urbana loucura d'onde, pois m’encontro...
[amargo eis que neste momento... choro!
A que faz tempo que desviei meus olhos par'o alto...
Pela terra a qu'então quisera todo o meu gozo
(Todavia, nada, em verdade, me ela deu...!)
Quanta decepção!
E assim, cansado como a quem tão distante viajou
Vejo-me, pois a deitado estar-me neste duro leito
Não sei se seria o da morte ou, quem sabe, apenas d'uma breve hora?
Que confusão, meu Deus!... Que confusão...!
Neste mundo em que os pagãos não se importam com nada
(E, talvez, por isso, é que vivem...)
Contra'eu, mísero cristão, a me matar em mil mortificações e torturas
Da vida a que deixei escapulir e de mim dar o fora...
Desta mesma vida a que os degolam... (embora disto bem o sabem)
Daqueles que levantam os troféus de seu gozo e luxúria
E, destarte, a repetir, cada qual, no íntimo... o seu real credo:
"Comamos e bebamos, porque amanhã... morreremos" (Isaías 22:13)
E, se este é o destino de todos, talvez, seja hora de ser... como eles
E repetir... também... como eles:
"Comamos e bebamos, porque amanhã... morreremos"
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18 de março de 2020