A Canção

Estou na Escala que pede o recomeço. Submeti-me à Clave de Sol e de Fá. Coloquei-me a disposição para que, no conjunto, saia a melodia.

O início pede pausa, depois, o alongado de uma semibreve no primeiro quarto de tempo, em obediência ao compasso.

As semínimas enfileiradas estão na prontidão para serem executadas, salpicam cá e lá, colcheias e semicolcheias, e o tremular das fusas avisam que na frente serão.

As mínimas ritmam,e as pausas caminham como hiato, fazendo o trabalho do silêncio. Tudo pronto!

Não sei porquê, entre vírus, zica, dica, medo, mito, choro e riso, consigo ouvir o som sendo afinado.

O novo renasceu...há de servir às coronárias.

E o coração da gente quer vida, pulsa vida.

O que será!? Como seremos!?

O que será que será! Que comunica dentro!?

Vida!!! Ainda resiste! Subsiste!

Vida! Quer de mim o próximo respiro, o suspiro, o levantar da mão na tramela que liga o chuveiro para o banho todo dia. Aquele ímpeto, mesmo sôfrego, que dá o engate para o levantar da cama pela manhã.

Não tem mistério maior que este... afã de vida, subsiste até mesmo sobre o suspeitar que toda esta esquisitice de prosa pode não passar de desculpa, para ir passando, vivendo, levando no morno, ao fogo brando o estar na peça de mal gosto. Sinistra.

Um vírus bagunça tudo. Um vírus!

Coisa do bicho, pensa o religioso.

E o cético, perdido está, deixa fluir.

Mas não!! Quando o ar entra pela fresta da porta, toca a pele, avisa!

Vida!!!

Vida!!!

Vida!!!!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 17/03/2020
Código do texto: T6890281
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