Versos de um Suicída
A vida é mesmo uma incógnita.
Ela é como esta folha
Branca e limpa antes de receber
As palavras de minha alma.
A vida é mesmo uma surpresa.
Quando menos espera
Ela te entrega uma caixa misteriosa
Que horas alegram, horas entristece e horas acalma.
A vida é mesmo sem sentido.
Aqueles que você deveria confiar
São os que mais te machucam
Que tiram seu sopro vital.
A vida é mesmo um saco.
Tudo se mantém pelo dinheiro,
Pelos bens e pelo poder
Apenas para se sentir “o tal”.
A vida é mesmo uma tragédia.
Ela se esvai pelo tempo
Como água que corre na palma da mão
Quase sempre te dizendo não.
A vida é mesmo um fim.
Praticamente tudo tem fim
Nada vira para sempre
As pessoas não tem amor de mãe.
A vida é mesmo um trem.
Quando está vazio
Acolhe qualquer um que pede
Mas quando cheio, nem todos vem.
A vida é mesmo um frequente quebra a cara.
As pessoas que um dia achou odiar
Hoje são aquelas que lhe dão força
Ou que lhe dão a sensação de harmonia no caos.
A vida é mesmo um amontoado de traumas.
Coisas quebram, sentimentos morrem,
Pessoas machucam, amores não amam,
Sonhos desaparecem.
A vida é mesmo um porre.
São tantos sentimentos
Envoltos por tempestades e dias ensolarados
Que te deixam quase sempre em modo depressivo.
A vida é mesmo um grande nada.
As coisas vão perdendo sentido
Os dias enjoativos e pessoas apenas sopros
Do vazio existencial do mundo.
A vida é mesmo um tudo.
Tudo acontece ao mesmo tempo
Tudo te enlouquece, tudo te entristece
Todos são ao mesmo tempo nada e tudo.
A vida é mesmo como uma folha amassada.
Já depois de tanto usada
Só quer sumir, desaparecer, se desfazer
E fazer a sua dor uma rotina passada.
A vida é mesmo algo que não se entende.
Prezamos pela sobrevivência,
Cuidamos para que nossos corações
Continuem a bater.
A vida é mesmo engraçada.
Alguns prezam a vida e tem medo de perde-la
Outros a querem dar um fim
Para não vivenciarem mais essa palhaçada.
A vida é mesmo um não entender-se.
Religiosos julgam e matam almas
Ateus buscam de certa forma algo além de sua compreensão
Pessoas sofrem só por não se aceitarem.
A vida é mesmo estranha.
Criada para multiplicar
Criada para copiar o que antes já fora copiado
Criada para não se recriar.
A vida é mesmo injusta.
Criada para seguir padrões
Criada para atender os prazeres alheios
Criada para ser usada
A vida é mesmo cruel.
Criada para satisfazer vontades
Criada para esconder medos
Criada para ser algum tipo de prêmio.
A vida é mesmo uma preconceituosa.
Criada para sentir os mesmos desejos
Criada para sentir os mesmos medos
Criada para sentir os mesmos dilemas.
A vida é mesmo dura.
Educada para prezar a vida.
Educada para seguir tradições
Educada para ser boneco de máscaras.
A vida é mesmo um “sei lá”
Pergunto por que existo
Pergunto por que luto
Pergunto por que tento.
A vida é mesmo um “desisto”.
Peço para ir
Peço para não existir
Peço para não...
A vida é mesmo um silêncio.
Pergunto, não me respondem
Falo, não me ouvem
Grito, não me encontram.
A vida é mesmo “insentimento”.
Procuro carinho
Procuro colo
Procuro amor, mas não encontro.
A vida é mesmo única.
Como findá-la sem pensar nos sonhos
Nos sorrisos, nos sons,
Nas paisagens, nos sentires?
A vida é mesmo uma viagem apenas de ida.
O que passou não volta
Posso encontrar semelhantes
Mas não será como antes.
A vida é mesmo partida.
Como dizer adeus as felicidades
As amizades, a caridade
As coisas de idade?
A vida é mesmo a ida à montanha.
Quanto mais alto, mais longe
Quanto mais subo, menos respiro
Quanto mais ando, mais paro.
A vida é mesmo um rio.
Chega uma hora que terá que desfazer
Para um grande mar fazer
E aventuras a outros dar prazer.
A vida é mesmo a única.
Como deixar as vontades, os planos
Os anos, as histórias, os hobbies,
Como deixar os ares?
A vida é mesmo um pedido.
O que faço?
O que deixo?
A quem me despeço?
A vida é mesmo uma carta.
Para que se desculpar?
Para que se despedir?
Para que se vão te esquecer?
A vida é mesmo um bilhete.
Curto e claro.
Um recado do que iremos fazer
Um recado para onde vamos.
A vida é mesmo uma despedida.
Me despeço do papel em branco
Enquanto as palavras surgem
Em meio a uma canção de adeus.
A vida... que vida terei?
A vida... que vida tenho?
A vida... que vida tive?
A vida é mesmo um alguém confuso.
Perdido em um labirinto cheio de saídas
Mas sem vontade alguma de sair
E ver o sol mais uma vez.
A vida é mesmo um talvez.
Talvez eu queira ver o sol uma ultima vez.
Talvez eu o queira ver todos os dias.
Talvez eu já o tenha visto pela última vez.
A vida é mesmo assim.
Até o momento me deixou aqui.
Mas sempre me esmurrou contra a parede
E sempre me manteve assim.
A vida foi assim.
Espero que não seja um ultimo adeus.
Espero que não seja o ultimo sorriso.
Espero que não seja o último toque.
A vida foi assim.
Não a quero mais.
Não a aguento mais
Não a vejo mais.
A vida foi assim.