Cacosoneto

Mondei toda a minha graça

Despedi-me de meu orgulho

Fiz bem em guardar minha vaidade

Mas onde a deixei?

Aderiu ao espelho certa monstruosidade

O rosto, que parecia irreconhecível,

Hoje desvela toda uma familiaridade

Aliás, mui certa familiaridade

Sonhei noutro dia, que, dormido, me perdoavam,

E meu coração saltava em suas leves gramas

Mas acontecia que eu despertava

E tudo pesava um inteira tonelada,

Eu mergulhava na roupa de cama

Algo que não me conseguia fazer surpreender

E logo eu ria da acre fantasia

Mas não passava disto, uma fantasia

Não tenho tanto humor para me perguntar

E sentir crer que não pago pelos pecados

Fazendo imagens de me enganar

Ter-me piedade comigo

Quem sabe meu ódio próprio abolido?

Assim, mói-me tudo a modo latejante e devagar

Por fim, de cor, prometo: eu regresso ao sono!

De cor, quem sabe me convença, regresso ao sono!

H Reis
Enviado por H Reis em 10/03/2020
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