PERDÃO.

Volto; coração nas mãos. Não o meu, mas o teu. Tem sido deveras injusta tamanha penitência... Confesso o crime e a ti, junto a um pedido de perdão, devolvo num choro engolido, o objeto do roubo. O que é dos outros, não se deve ter. Cuida bem dele. Cuida-lhe dos sentimentos, dos quereres, dos ferimentos...A ti, meu perdão. Na melhor das intenções, pratiquei o ato, achando que poderia faze-lo bater mais feliz. E que confusão provoquei quando, inescrupulosamente, numa perigosa operação, tentei transfundir-lhe amor. Infelizmente, errei de veia e por consequência houve rejeição. Certos procedimentos não devem ser forçados, acontecem naturalmente, se assim, permitir o tal do destino. Perdoa-me pelas avarias. Novas descobertas, decerto, trarão de volta um perfeito funcionamento, bombeando-te nas veias, outras alegrias, outros sorrisos. Devolvo a ti, o que te pertence. Quanto ao meu, sangra...a cada batida; na verdade, nem sabe mais se bate ou apanha...Sequelado, segue, tenta descompassado, bombear sangue vermelho pálido. Apesar de enfraquecido e abatido, num esforço descomunal, deseja que novamente, bata feliz, esse, que agora, com amor, ao peito, te devolvo.

Elenice Bastos.