Alá, meu bom Alá!?
Sangue, sangue, sangue, sangue, sangue...
Escorrem, correm, lambuzam, invadem as ruas de Bagdá. Olhos temerosos mostram rostos assustados. Pedaços de corpos mutilados cravam nas areias e pedras secas. Células e sangue dos mártires do profeta Maomé enviado e receptor das palavras do alcorão dadas a ele, através do anjo Gabriel por ordem, saber e força de Alá.
Aves de rapina de estômagos proeminentes, recheados de tanto alimento não conseguem mais engolir tanta carniça, e, com isso o odor da morte acompanha homens, mulheres e crianças.
Sim, é preciso recolher o que resta dos cadáveres, socorrer os feridos e continuar a rotina nesse caos exasperante em que se transformou o Império da Mesopotâmia.
O ataque de 11 de Setembro de 2001 mostrou aos personagens desse conto de terror, a tal da circularidade temporal. Pois, ela monta e desmonta impérios. Demonstra com volúpia de detalhes e maldição, a guerra intrínseca nos homens, desvelando a sua barbárie. Um afronta as palavras ensejadas pelos outros personagens, os que gritam pela paz!
É infinita a voracidade desse bicho agora transmutado em demônio de grande poder bélico.
Peregrinos carregam nos ombros embebidos no sangue autoflagelante, um caixão esverdeado símbolo do imã Musa Kadhim, um xiita mártir morto há cerca de 1.200 anos. Mais de um milhão deles carregam bandeiras, cantam, choram invadindo as ruas apertadas com suas orações de palavras desconexas.
Mãos firmes, olhos vidrados, inconsciência, fanatismo..., sem dúvida ele não pertence ao einsatzgruppen da SS, do regime nazista. Ele não está caminhando por ruas da Europa, a captura de civis e membros das comunidades judaicas no auge da Segunda Guerra.
A data desse conto de terror é hoje, terça-feira, 11 de Setembro de 2007. E esse caminhante é mais um dos membros das Brigada dos Mártires de Alá.
Mais uma explosão se faz ouvir, mais um jovem foi se enroscar nos seios róseos das dezenas de virgens, lascivas, abandonadas, estendidas pelos jardins dos interiores das salas, olhando as suas paredes incrustadas de pedras preciosas dos palácios suntuosos de Alá.
Ah! Alá, meu bom Alá!?
Ana Marly de Oliveira Jacobino
Especialista em Literatura