A tristeza do poeta
Sob o peso de uma angústia nauseante escrevo estas anotações inúteis. Entre o que quero e não quero há um abismo de ignorância, brumas de desejos não resolvidos, ecos de ilusões perdidas. O dia é de um nublado vazio, vazio de emoções e ideias que não se completam, como luzes de um farol abandonado piscando, falhando, sem forças para se manter e iluminar uma direção, por mais que tudo sejam brumas, brumas, brumas...
Não é solidão o que sinto, é a presença de tudo não ser nada, esquecimento, sombras na caverna de Platão...
Debruço-me o peso estagnado do corpo que não me pertence sobre a janela e a brisa vem soprar o rosto que sinto não ser meu. Ouço, sem querer, os transeuntes que passam na estrada; respiro fundo, mas não sou eu, estou longe, em lugar nenhum, na terra de ninguém.
No fundo invisível das impressões fugidias sentimentos caminham pela minha alma como pessoas que não conheço. Sou todo um mundo desconhecido onde vivo-me sem eu. O abismo visível de nuvens sonolentas faz-me sono, mas não de dormir; vontade de não ser sem deixar de ser. Suspiro...
Nas vagas desconhecidas do destino penso que mistérios terríveis e sublimes me aguardam no futuro que não há. Uma impressão que não distingo bem surge-me e arrepia-me a pele, depois que a brisa passou como se eu sempre estivesse aqui, já não digo neste mesmo corpo e lugar, não sei, mas aqui. - Onde?
Em lugar nenhum, eterna presença sem mim...