Eu, o cético, também sou um crente
Há dias que estou nostálgico e as forças de embriaguez espiritual transfiguram-me os sentimentos: ouço o vento que me fala aos ouvidos, sua voz é suave como a brisa que alisa meus cabelos. O coração serena em compassos ritmados; o corpo quer dançar aos pés dos deuses e agradecê-los. - Quem é grato pela vida necessita de um deus para agradecer. É tanta a vida que a loucura se torna arte e razão de ser.
Hoje estou nostálgico; hoje sou filamentos de sonhos desaguando no lago da consciência. Meu intelecto dorme aos afagos da mentira que usa o nome da verdade, doce embriaguez da alma que, dadivosa, quer ajoelhar-se. Hoje minha alma religiosa canta mais alto. No azul celeste anjos dançam no éter com suas trombetas; monstros risonhos fazem-me caretas. Todo céu estremece em sons espirituais. - Eu enlouqueceria não fosse meu amor por um símbolo milenar: silêncio; que por trás de tudo que há, mentira ou verdade, guarda o segredo da eternidade. É lá que eu adormeço...
Calo-me...
Todos os deuses calam-se também. O tempo se foi. Tudo parou. A vida passa e nunca chegou a começar...