Vi

Sonhei, num entrelaçamento de tempos e estados, sendo auxiliada por papai, a estar alocada sobre a pedra, lugar mais alto da cordilheira.

Era no velho adoecido, insuficiente nas funções do coração. Mesmo com minha resistência, negando seu amparo, insistiu auxiliar-me à busca do lugar mais alto.

Aqueles que estavam no entorno, davam palpite, outros, sinalizavam onde poderia pisar para chegar até o pico, mas quem deu o impulso final, aquele que levou a permitir-me sentar sobre a pedra, no lugar mais alto, foi papai.

Lembro bem da intimidade, o suspiro dele, dizendo:” Sente-se, filha! Sente-se!. E eu :" Não papai! Cuidado, papai! o senhor não pode pegar peso!

Não teve jeito, auxiliou mesmo assim a estar no cume, naquele lugar que daria para ter a panorâmica, ver do alto, o mais profundo.

Estando no mais alto, sobre a pedra, todos desapareceram, até papai. Tornei-me consciente do mundo dos penhascos. Vi a água e a correnteza no mais profundo.

Daquela altitude, como se estivesse com lupa sobre os olhos, enxerguei a cor das pedras lodosas, a água suja, até o estado quase parado do seu movimento. Chorei, o peso da compreensão aflorou.

Não vi papai mais.

Acordei. Apercebi que estava sonhando.

Será?

O que é o tempo na eternidade? O que são vidas separadas pela morte? O que é a realidade? O que une laço de sangue? O que é o continuum do tempo? e o propósito? O a que veio atende as aspirações dos antepassados? Ou o afã da individualidade? O que é sincronicidade de consciências? O que sabemos de nós? De Humanos? De mente?

Dará conta a tecnologia disto? Ir aos outros planetas, Participar do consumo do mundo, melhorará a compreensão de nós mesmos?

O que somos? Onde estamos? Para onde iremos? Somos uma individualidade fragmentada do Todo?

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 22/02/2020
Reeditado em 22/02/2020
Código do texto: T6872171
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