Transfiguração

Afluíste para mim qual a chuva se entranha na terra. Tuas emanações imiscuíram-se em meu ser de alto a baixo. Meus sentidos todos invadidos por tua presença. Vieste morar em mim.

Vibravam meus átomos ao som de tua voz. Arrebatadas pela íris verdescente de teu olhar, debruçavam-se minhas pupilas nas janelas de tua alma. Na ternura do aconchego, abrigavam-se minhas mãos nas tuas. Tua respiração e a minha eram um fluxo ritmado. E nossos corações fundiram-se em sol, irradiando luz e calor geradores de vida.

E agora... agora, tu te ocultas na distância. Silencia teu canto. Furta-me o resplandecer de teus olhos. Deixas vazia a mão que estendo. Me falta ar e o frio me envolve. Tudo é penumbra, tudo dói, tudo está suspenso.

Ai de mim! Transformar-te-ei em música, cada tua emanação em movimentos de dança. Tu que inundaste, num repente, minh’alma, desaguarás, vagaroso, no Universo.

Valham-me som e movimento! Que eu não vou morrer de amor!