Ilusão II

Os corpos se locomoviam em transe, movimentos arquitetados e perfeitamente dançados em um fluxo além do tempo. A luz pálida sobre os vestidos, olhos semiabertos, o salão inteiro dominado pelo disparatado desamparo que ditavam suas ações.

Este amor é um impulso, um pedido de ajuda.

Vago entre o rastro das horas passadas nas escadas, sento-me num degrau em melhor vista para o céu, e num esfregar de pupilas, recupero minha visão e o que sobrara de minha coerência.

Em incapacidade de quebrar a inércia de minha exaustão, meus pés doloridos, um instrumento obsoleto de minhas desistidas fugas. E agora vem para mim como uma sussurrada resposta a escolha de permanecer e ser como tudo em minha vida se conforma no agora.

Este amor é uma autodefesa.

Liberdade em termos como esta é uma hipocrisia, disto eu não quero mais nada, nem mais um segundo disto, por favor.

Antes que o dilúvio antecipado pelas nuvens quebre as janelas, inunde todos os quartos, e obrigue os convidados a se deslocarem ao pátio, tenha em mente que esta também fora uma indignação do universo.

Este amor é uma confusão.

Há estrelas em seus olhos, expandindo seus números em cada segundo em que seus brilhos me impedem de escapar deste delírio. Ainda os observo ou apenas os imagino noite após noite em que vivo dentro de minhas ilusões?

Começos e fins, uma constante se esvaindo a se tornar uma mera tentativa falhar de ser algo além das linhas desta poesia. Eu vi tudo, senti tudo, descobri tudo.

Inalcançável por mim, em peso de pluma, flutua para longe sua imagem como a lembrança de que alvoradas como estas foram fadadas a serem guiadas às mesmas fatídicas conclusões de incontáveis horas perdidas à escuridão e escassez de clareza para encontrar soluções.

Este amor são infinitas palavras que me escrevem.