Arde

Em frente à janela tem uma árvore.

De qualquer dissabor é bom que se desarme.

O sol nasceu na hora exata.

No estonteante verde musgo da mata.

A açucena é uma flor doce.

Seu perfume exala fragrâncias delicadas.

A mesa fica no meio da sala.

Lá se escreve cartas em letra cursiva.

A luz do dia se esquiva e suave nos nubla. Nós somos gotas de chuva. Amanhã vou bater na sua porta. Apresentar meu rosto com um sorriso amigo. Você que é tão antigo.

Mas esquece.

Já passou das sete. Na rua mais um assalto, mais um pivete, despido de futuro. Tudo ficou tão tarde. Tudo ficou tão longe. Inútil dissecar sua imagem.

São píxeis e nada mais.

Conformo-me.

Sou água de maré e vou para onde a lua me levar. Gosto de dançar sem par. Sozinha, a última palavra é sempre a minha.

Só existe a minha rima, que desafina deveras.

E meu corpo persevera nós anos que passam e deixam para trás quem somos.

Que saudade tenho de quem fui. Mas hoje a dor está amortecida, e na apatia da vida vou tomando um café morno.

Eu que sou água de fogo.

OMonalisaO
Enviado por OMonalisaO em 19/02/2020
Reeditado em 20/02/2020
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