Importante
Hoje amanheceu um dia claro, desses que convidam à ação, à produtividade. Levanto-me, faço um café, limpo a casa e em uma longa baforadas de cigarro penso que é mais um dia para se viver. Aquela vergonha que ruborizava meu rosto, são só lembranças passadas. Aquele amor tão terno, que sonhei perfumado de flores de jasmim, está tão ocupado, tão ocupado que é bem capaz que já não lembra de mim. E também me esqueço aos poucos, ainda que seja a primeira lembrança ao acordar. O amor está meio fraco das pernas, e não tem elixir de longa vida que dê jeito. Guardarei esse amor entre os meus melhores esquecimentos. O amor fraternal que recebo de pessoas próximas extrapola o tempo e mostra sua força, ao roer juntos o osso quando a vida entorta. Eu não sei se sou uma pessoa feliz. Sei que tenho muitos motivos para ser feliz. E isso me traz um contentamento como se dissesse que a vida não é fria, é o morno, temperatura mediana entre a extrema alegria, e a mais sangria dor. Eu já sofri muito na vida, situações em que qualquer um chorava. Fui destroçada. Cheguei bem perto do limiar da morte. Mas isso meu porte não mostra. Sou altiva, tenho um rosto sério de arder. Nas fotos sorrio, por um velho costume antigo. Sou brava guerreira desse chão do cerrado. E se aqui chorei, também plantei despautérios frutiferos que caíram em fértil dolo. Observo de longe essa flores ilogicas e aplaudo com os olhos. Eu fui uma sujeita perculiar, eu sei, disse coisas que ninguém dizia, ouvi canções que ninguém esperava. Nadei contra a correnteza da multidão, não porque quisesse ser diferente, mas porque o céu ordenou que se falasse de peixes que não tem escamas, de mares que não tem ondas, de Deus que não tem religião. Alguns diriam: tresloucada, amiga. E a força tomava minhas mãos e andava meus pés. Aquele grito descomunal que a terra bem ouviu ainda ressoa em meus ouvidos, hoje suavemente como uma canção experimental. Uma vez eu quis partir de vez para o reino do céu etéreo. Mas a terra disse não. Que me quer aqui como raiz de frondosa árvore. Ou mãos que semeiam ideias vagas como fumaça. Ou talvez para ser pobre, e viver os dias no cadeado das horas, vilmente humana, cheia de células e moléculas. Eu te amei. Você sempre volta do reino do esquecimento. Eu te amei insanamente. Hoje você é quadro na parede e aquela dorzinha pungente no peito. Em frente à minha janela tem um enorme flamboyant. Passo os dias tendo a ele como paisagem. Eu não saio de casa. Passo os dias tentando entender tudo o que aconteceu. E como sou muito volátil, acabo mudando de opinião minutos depois de ter chegado a alguma conclusão. O mundo é muito vasto. Vasto como aquele dia que eu te vi pela primeira vez. Vasto como um poético campo de girassóis. Vasto como o amor que sinto, em meio às minhas dores e dissabores. A vida me ensinou a ser agora, porque o passado foi estupendamente lindo e tenebrosa.mente penoso. O presente passa lento, um tédio que me faz inventar mil coisas. E quando vejo estou absorta, fazendo algo necessário e muito desimportante. Só a desimpotancia importa.