Pra que tanta dor?
Eu estou triste, e já estive triste tantas vezes. Lá fora chove torrencialmente, não porque correm lágrimas dos meus olhos, mas por uma simples questão meteorológica. Dói-me o peito e já não posso falar, cansada que estou da minha dor nos ouvidos alheios. O texto acolhe meu desabafo indiferente, são palavras neutras, um mero vocabulário. Mas hoje me ardeu o peito e desejei não estar mais aqui. Eu sou forte. Não sou mulher de lamúrios. Eu estava entre amigos, sorrindo, querendo desexistir, quando comecei a rezar em silêncio. Quem me via sorrindo jamais imaginaria o meu desespero. Eu não gosto de falar de dor. Exalto sempre o brilho do sol. A exuberância das ondas do mar. A maré no pôr do sol. A cidade e seus cidadãos. Diria que estou precisando mais de amor. Mas se eu tiver olhos para ver, verei que amor eu tenho. A dor é essa gangorra. Uma hora está em alta, em outra está em baixa. Quando a dor está em alta não existe sol, não existe amor, não existe nada, só existe a dor. A dilacerante dor. Mas quando a dor está em baixo tudo parece certo como certo deve ser, a cidade caminha seu passo exato, o amor seu encaixe perfeito e a vida a alegria natural. Rezo e peço a Deus que nessas subidas e descidas eu nem desça ao inferno, nem suba ao céu. Meu caminho nesse mundo eu vou levar até o fim. Desde criança eu sei brincar de gangorra.