Fartura de rima
Havia uma árvore no meio da janela. Não havia nenhuma comida na panela. Só a multidão se esfacela. No ônibus lotado rumo à favela. Choveu muito e há lama na rua. Os pés se sujam como em uma gravura. As sombrinhas se dobram como em uma pintura. Mas os transeuntes não acham graça. Pagam caro a passagem de cada dia. A alta carestia da vida. Mas é preciso viver porque o sangue pulsa. E as crianças pedem pão. E pedem circo. E pedem amor. Os homens querem respeito. Querem ser chamados de senhor. As formigam tem fama de que muito trabalham. Carregam folhas. E ignoram a extinção das abelhas. No conventos existem freiras que não se casam. Os franciscanos fazem voto de pobreza. Enquanto outros preferem a realeza. Há quem ame os felinos. Há quem mostre os caninos. O mar é um lugar misterioso. É cheio de água. O humano é um ser muito peculiar. Toda hora enche o peito de ar. O jornal insiste em contabilizar quantos morreram. E eu tento memorizar quantas vezes o beija flor bate as asas quando está parado no ar. Essa vida é um sopro. É uma galinha que nasceu antes do ovo.