A mulher séria

A mulher séria, de cara quase amarrada, já não anda mais na rua olhando para o chão. Atormentada pelos próprias lembranças raramente sai de casa. Vai apenas ao mercado para não passar fome. Passa os dias em casa, envolvida com seus próprios pensamentos, alguns tristes, outros alegres, alguns lúgubres, outros agradáveis. Vive não a vida presente, mas a vida atemporal. Lembra dos amigos ausentes que gostava e que continuam vivos sentados na sala, com quem tem longas conversas. Lembra também dos amigos que esqueceu. Olha as paredes e elas lhe parecem tão familiares, lá às vezes ela escreve palavras, fé, bondade, esperança... Às vezes faz um desenho na tentativa de reconhecer a imagem que vê no espelho. As pessoas que vê na rua lhe parecem tão distantes, que é difícil crer que realmente existam. Inútil lhe fazer convites. Festas. Viagens. Nada lhe fará sair. Está presa à casa como uma árvore está presa ao chão. Prisão física e interior. Logo ela que sempre sonhou voar. Presa está mas viva mais. Viva porque há amor que rompe a casa e alcança o universo. A pessoa séria, que sorria sem rir, por se sentir sem sonhos, às vezes chora sozinha, um choro sem lágrimas, sem lenço e sem consolo. Depois silencia o pranto e continua a pensar naqueles versos de luz que ainda não escreveu. Será um poema sobre liberdade.

OMonalisaO
Enviado por OMonalisaO em 12/02/2020
Reeditado em 15/02/2020
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