De volta
Pensava ter a casa vazia... julgava deserta a paisagem, esquecida a imagem, deletada a história. Tanto tempo já se passara... Tanta água já havia lavado o leito do rio onde sua vida transcorria...
Mas, tal qual o sertanejo que abriu o guarda-roupas e se deparou com o casaco verde dela ou o outro que encontrou um fio de cabelo dela agarrado ao paletó, Lara encontrou algo, embora imaterial, que o trouxe de volta... primeiro aos sonhos, em seguida às sensações, migrando para a mente até achar seu antigo recanto no coração.
E estava tudo perdido. Vão o transcorrer do tempo, vãos os esforços para racionalizar, vão o fingir-que-nada-aconteceu.
Ele estava ali e ela só queria isso mesmo... que ele estivesse ali.
Mas, ironia de qualquer coisa, no momento mesmo em que quase esteve, fugiu, deixou de estar. E, agora, ela o busca e não o encontra, ela o chama e ele não ouve, se ouve não responde, cala-se, afasta-se, desaparece na neblina, esconde-se por detrás de portas secretas...