Palavras ao avesso
Seu Joaquim tinha o velho costume
de dissecar palavras.
Esmiuçava as sílabas,
como quem cata as pedrinhas do feijão.
Quando achava o solo árido,
plantava um flamboyant no meio da frase.
Ele tinha o gosto de escrever no espelho.
E toda vez que lia
sua imagem parecia diferente.
Gostava de contar histórias.
Contou que Rose,
a mulher que ele amava,
só escrevia do lado do avesso,
com um alfabeto que ela mesma inventara.
Ele passava os dias apreciando as letras,
seus contornos,
e era como se entendesse.
Eram dias doces.