Pesadelo

Um copo de bebida numa das mãos

E na outra um cigarro

Não há espaço pra imagens

E o espelho quebrado

Não mostra mais as fases

Da Lua, da face escura

A alma presa ao corpo que pesa

Tão pouco, que quase levita

Mas, a gravidade o puxa

O copo, o cigarro e o corpo pesam

E pesando tantas coisas

A balança pende

Range triste

Pelo tempo que se perde

Pelo momento que prende

Não é o fundo do poço...

A escuridão vem da noite

Da solidão como açoite

Os amigos se foram

As palavras ferem

As paredes fervem

A cabeça dói

Os olhos doem

E a boca úmida e amarga

Já não abriga sons

Apenas dentes brancos

Num rosto magro e sem pranto

O prato é vazio...

E a alma precisa de alimento

O dia rompe a escuridão

Não há copo, nem cigarro

E o corpo aos poucos

Se recompõe

O coração desacelera

Os olhos abertos

O suor na testa...

O pesadelo, finalmente, dormiu.