Passarinheira

Passarinheira

Cassia Caryne - 04/02/2020

Acho que o tempo fez criar asas em mim. Ou, desde sempre, fui passarinho e não sabia disso. Mas devo confessar que os pios, gorjeios, cantos dessa ave têm me falado coisas ao coração. Às vezes acordo às 04:30 h para ouvi -los. Começam baixinho, como se cochichassem uns aos outros, animando-os a espreguiçar e alçar vôos de bom dia. Os pios e cantos vão enchendo a madrugada de uma divina música... e ao longo do dia, eu os ouço em várias línguas: de maritaca, de bem-te-vi, de rolinhas, de pardal, de sabiá, de canarinho, de pombos... Ontem, já tinha dado partida no carro, tive de estacionar de novo, só para ver um pequeno bando de pardais chafurdando na terra pouca que havia na rua de paralelepípedo. Eles piavam, felizes, sacudindo as asinhas e rebolando na terra misturada com areia, quentinha do sol. Pensei: não precisam de um deserto para se sentirem felizes e plenos. Um tiquinho de terra, cercada de pedras da rua,é seu oásis, ou praia ou paraíso. Recreiam, contentes e, tenho certeza, agradecidos dessa pausa em que deixam de ser presa de outro bicho. Uma trégua no dia longo que terão para a luta da sobrevivência e da cadeia alimentar. São só almas emplumadas, adoráveis bichinhos alados e cantantes. Depois penso em mim: tanto trabalho para fazer e eu aqui, parada, como se tivesse ganho o dia. E logo em seguida, emendo: mas é claro! Estou igual aos passarinhos, dando uma trégua no cotidiano corrido e insano que vivo. Isso sim, é viver! Porque a poesia está em todos nós. Basta ter "olhos vagabundos" e mentes buliçosas...

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 04/02/2020
Reeditado em 04/02/2020
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