A relva dos nossos sonhos
Que sentimentos! O ocaso não nos encontraria. Não naquele dia.
Os pássaros voavam para espiar a nossa alegria. O encanto tomava-nos por completo, e como se fosse por capricho, não nos abandonava.
As árvores balançavam cada vez mais. Estávamos no outono. O vento retardava o calor e os cabelos da amada maravilhosamente derramados no chão, em plagas fazendo a moldura encantada com partes da grama, e ficavam expostos num verde, tão verde, parecendo que a esperança fazia da felicidade uma realidade.
O sol ficava ali parado, matreiro olhando-nos por entre as passagens pequenas nas aberturas das folhas das árvores, que agora pareciam chorar de alegria, destilando a sua clorofila, derrubando as suas folhas bem lentamente em cima da gente, chegando ao solo num bailar solene, como se também quisesse deitar. Estava pintado aquele quadro: nós e as folhas, de braços dados com a natureza.
Talvez fosse uma manhã do final do mês de setembro, não lembro exatamente o dia, pois do final de setembro a vinte e dois de dezembro, praticamente os dias são todos iguais. O que viria depois? Depois tudo começa a esquentar as almas com o verão.
O mundo aos poucos se fechava ao nosso redor. O mundo era só a gente.
Viver era melhor. Amar era melhor.
Abraçados, o mundo parecia se curvar diante daquele quadro pintado pelo tempo, em tranquilos movimentos, e tudo estava tão bom. Era assim que alguém queria viver, numa fantasia regada de alegria no campo dos sonhos de amor.
Muito além do tempo, não retive com precisão a nossa permanência ali. Ocorreu a ideia de levantar e andar sozinho, entretanto percebi que eu não tinha mais as pernas, os braços e a mente, pois tudo agora era você. De tanto fazer promessa, nos fundimos numa só peça, o amor virou um só coração.
A felicidade era a nossa testemunha num sonho que não queria ter fim. Quem bom seria se a gente pudesse morrer assim.