Botões Filosóficos
O relógio do tempo anuncia que é hora de partir.
Adoravelmente nostálgica a noite se despede e, entre as brumas do amanhecer silenciosamente se afasta.
Um dia que nunca existiu surge nos braços da aurora, envolto num manto de cores quentes e reluzentes, como um bebê recém saído do ventre acolhedor da mãe sendo entregue aos cuidados do pai: o tempo.
O tempo o recebe em seus braços poderosos de pai sábio e dominador.
A natureza em euforia comemora o milagre do novo.
Humanos sonâmbulo perambulam em torno de si mesmos, como bichos adestrados. Orgulhosos exibem a taça do prazer que deve ser bebida até o fim do dia.
Eu, contrariada com a despedida da noite converso em tom nostálgico com meus botões filosóficos sobre essa tirania do tempo.
Inconformada por ter sido literalmente arrancada dos meus sonhos, finalmente acordo para entrar em um outro sonho.
Ainda bocejando, esfrego os dedos sobre os olhos, como criança mimada, assim que sinto os primeiros pensamentos pousarem sobre minha cabeça como pássaros insones. E ali eles fazem seus ninhos.
Um corvo atrevido infiltrado no bando murmura aborrecido uma frase que faz todos os outros pensamentos levantarem vôo de mim: nem sempre um novo dia traz consigo um dia novo!
E cá com meus botões filosóficos mais uma vez ponho-me a resmungar: odeio ter de admitir que esse corvo tem razão!