Lamento Pelas Infâncias Perdidas
Essas palavras são gotas de pranto, e cada fonema compõe um suspiro de angústia por estes que choram ocultos atrás das portas da indiferença. Por estes que se encolhem com seus braços, envolvendo os joelhos pelas calçadas da existência, sondando nos rostos da humanidade uma centelha de proteção e abrigo.
Estes pequenos botões destroçados, colhidos tão prematuramente com suas infâncias perdidas e roubadas. Na sua face espelha-se em desatino a perplexidade do mundo.
Esse pranto e lamento é pela perda da humanidade, pela substantivação do "SER HUMANO" que deveria , em essência, ser verbo e não apenas nome.
Em tempos cruéis, o verbo que habita o ser escoa por entre os dedos inertes e gélidos da indiferença.
Dançamos na eterna espiral do sofrimento que arrasta a humanidade por milênios!
Dançamos no ritmo do egoísmo!
Dançamos de olhos vendados em busca de promessas vãs: do poder, da vaidade, das ideologias, das máscaras estampando sorrisos pintados!
Esse pranto quer jorrar como cascata, quer lavar a alma da vergonha e da inércia, ante a perda da humanidade.
É um lamento latejante pelas pequenas mãos estendidas nas esquinas, nos semáforos da existência, implorando dignidade. Essas mesmas esquinas que servem de vitrine sádica aos botões de rosa arrancados e violados pela brutalidade e torpe asfixia da condição humana.
Em que buraco negro tombaram essas almas?
Algo em cada um vai ao abismo com aquele que cai.
O pranto é a resposta ao drama da queda extrema da humanidade, um pedido de resgate.
Choremos, pois!
Choremos muito!
Lamentemos com indignação as infâncias perdidas, as mãos pequenas e frágeis, cruzadas num peito onde deveriam habitar esperanças.
As lágrimas vertidas são dádivas. Juntas, poderão inundar as almas despertas dos inconformados. Dos que querem preservar os botões de rosas em jardins sagrados e puros. Dos que preparam o solo do mundo para plantar a esperança de que ainda haverá futuro.