Ilusão I
Ações antecipadas, reações calculadas, palavras atentas e preparadas, é agora ou nunca.
Fora a ânsia de ser a última vez, ou a certeza de que seria uma querida verdade acontecendo pela primeira e única cena perdida entre os fragmentos de toda esta incompreensível cinematografia?
Estive esperando aqui,
Apoiando-me nos
Mesmos versos,
Mesmos dias,
Mesmos segundos
Em que espreito
Ao meu redor pela
Chegada de algo
Que me leve para
Longe de tudo.
Velocidade inconstante, borrões de casas, prédios, luzes e rostos passam como pinceladas de tonalidades efêmeras em meu autorretrato. Sou parte de sua realidade, sempre em constante mudança. Eu, artista de minha catástrofe, aprimorando as dimensões de minha obra-prima.
Rendido, fiz tudo o que quis, cumpri o que fora necessário, vivi o que quis morrer, sem arrependimentos.
Não tenho planos secundários, sem a quem ligar no orelhão mais próximo, nenhum bilhete de volta para casa. Minhas mãos estão frias, suo entre a enclausura que me faz encolher e temer meu poder de decisão. Faminto, indiferente, sozinho. Domingo, cinco da tarde, estação vazia, nuvens tímidas e Sol fraco.
Tenho enfeites em meu corpo,
Pés presos e mãos amarradas,
Uma voz que me faz chorar,
Uma saudade de quem
Encontra a desistência em
Maneiras de me procurar.
Uma liberdade que não conheço, uma casa onde sou bem-vindo e sentimentos clichés de outros contos de fada fluem como única resposta aos meus impasses. Apenas esta realização é o que almejo para o agora, nada além do agora.
E apesar de tudo, você não me vê.
Eu estava esperando por mais?
É exatamente como nos filmes: O faz de conta me mantém vivo, nutre-me com tudo o que desaprendi a sentir.
Eu estava esperando por muito mais.
Entre os primeiros resquícios da aurora que me socorre de devaneios e delírios, abro meus braços e apresento meus versos à fonte de toda a sua luz e calor.
Eu estou em casa, seguro e à beira de lágrimas inevitáveis.
Enxugo a umidade escorrendo em meu rosto, viro para o outro lado da cama, adormeço novamente.