Power off

Desde a saída meu caminho já foi torto, quase matei minha mãe pra nascer. Parece que era o prenúncio de que lá na frente o caminho ia entortar, ou que talvez eu fosse de alguma forma querer deixar essa porra toda pra lá - e falo da minha vida mesmo. Sabe, se desligar dessa merda toda e ter paz. Enfim paz.

Não me imagino como um espírito zombeteiro que assusta casa e essas coisas Hollywoodianas, assustar deve dar trabalho. E a vida anda pesada demais, muita coisa ao mesmo tempo. As vezes parece que o mundo vai me engolir vivo, só pra me cuspir de volta. No meio dessa ruminação toda, só me sinto mais na bosta do que entrei nesse carrossel louco.

Paro na posição fetal no quarto, respiro fundo. Tento ouvir música (e ela só me dá a sensação de tal carrossel ligar). Respiração ofegante, acelerada. Suor em bicas e as mãos tremem - mais uma crise, penso.

Agora é só focar em não morrer e tentar respirar direito. Sério, quando essas coisas acontecem eu queria desligar e acordar bem. Meus pensamentos e sentimentos são muito merdas pra eu conviver acordado nessas horas. Cobranças pessoais, coisas que deram errado e tudo isso junto com a casa que eu um dia tenho que tomar coragem pra habitar de novo. As coisas que passam na minha cabeça não fazem muito sentido. Mas são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e de uma vez só, que eu trago - e só penso em desligar.

Não culpo ninguém pelas merdas que fiz e andei fazendo - descobri que sou muito bom nisso também. E para que serve o mundo se não for para se testar? Se pôr a prova, entende? Mas, mesmo com todas as experiências adquiridas, me bate desânimo. Desgosto. As coisas eram para ser diferentes.

Não que eu me arrependa de porra nenhuma que fiz, as calças que visto me fazem assumir tudo de errado - e de certo - que aconteceram durante esses quase trinta anos de tombos e acertos.

E aqui jaz a figura do escritor, que abre seu peito com uma faca de pão cega, e sentindo todas as dores e amarguras de ser Ele próprio. Diante de uma folha de papel, sentado numa mesa de bar, sob olhares de curiosidade - ou de desdém, vai se lá saber.

No meio disso tudo, eu só queria um botão de "Power off".

Parece triste, louco, diria até mesmo, lamentável.

Mas cada uma dessas letras, ainda que mal escritas são a mais pura realidade.

Sou eu.

Marcos "Tinguah" Vinícius

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 28/01/2020
Código do texto: T6852788
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