Ângela

Eu fico um pouco preocupada, sabe?

Não é uma grande coisa, ou uma relação de vulcão e lava. Todos pareciam um tanto nervosos, algo parecido com a chuva; profundamente inquieta, como se na superfície mais visível dos meus desejos ele encontrasse meu único medo, meu pânico secreto de todos os dias... Eu não vou mencionar o que é, mesmo porque não lembro.

Quando cheguei em casa no dia seguinte àquele encontro a dois, senti nos meus lábios uma necessidade de ter de volta o batom que a boca dele roubou, eu era mesmo uma boba. Claro, sorri. Gostei. Gostei muito.

Mas, sabe quando alguém te olha tão profundo e tão inevitavelmente indecente que deixa até uma marca de quero-mais? Pois é, eu me senti despida e é claro que eu também o despi. Eu sou tão boba...

Meu casaco pesado, minha calça ensopada, meu sapado fedendo a umidade... eu queria rir, mas sim, fui nua até a varanda e pendurei aquela roupa molhada, poeticamente cheirando a água da chuva.

Eu não consegui dormir, lógico. Fiquei pensando, quando deitei, que ter uma grande amor ameno, com pêlos no corpo e gestos de Força e calma ao mesmo tempo, não seria nem um pouco ensurdecedor naquele início de inverno.