a queda de um sentimento
E se?
Continua sendo minha maior inconstância em arriscar, em cair nos desafios cujo o lado obscuro, de portas que me nego a abrir, trabalha à todo vapor. E foi dentro de uma dessas salas que fantasiei com os lábios carnudos e convidativos de uma prima com, possivelmente, vinte por cento de parentesco.
Em qualquer lugar que ela pisa os pés, a atenção do ambiente se tornava sua e apenas. Pelo menos dentro de minha cabecinha, no sorriso que nascia em meu rosto ao vê-la ou ouvir seu sotaque, sendo mais uma das coisas a abalar meu mundo, e, diferente da opinião popular masculina, eu pouco me importava por ela recentemente ter se comprometido à maternidade. Ainda não tive o prazer de conhecer sua criança, mas as fotos declaravam o quão fofa realmente poderia ser, vistas pelas redes sociais.
Uma lembrança recorrente que tenho, é a de quando estávamos no interior de sua cidade, na chácara de sua avó, para ser mais específico. Sua avó, prima de meu pai. Para continuar na multidão, preciso ocasionalmente ter minha solidão. Com isso, me recolhi para uma leitura deitado na cama do quarto que me foi designado. Me perdia nas palavras feito um cego dentro de um milharal, mas sendo uma coisa boa, afundando ainda mais no mundo proposto do livro. Até a hora que ela entrou.
"Tá lendo, primo?" ela me perguntou, mesmo me vendo com o livro em meu colo.
"Sim," eu virei meu olhar para sua atenção, para seus pequenos olhos castanhos.
"Posso ficar aqui contigo? Não vou te atrapalhar?"
"Tá tranquilo," respondi me ajeitando na cama. "Pode ficar, sim." Ela deu a volta e deitou ao meu lado, apoiando a cabeça em meu braço. Assim ficamos por meia hora, e foi tanta paz e conforto junto de rápidos batimentos cardíacos dentro de meu peito que senti ao mesmo tempo. A garota mexia no próprio celular, mas eu sabia que seus olhos se arrastavam por minha pele entre uma frase ou outra que eu lia e uma palavra ou outra que ela escrevia em suas mensagens. Talvez estivesse me analisando, tentando saber o que passava em minha cabeça, projetando o próximo movimento e como eu reagiria com ele. Enquanto isso, tudo o que eu queria era que ela deitasse em meu colo, mesmo que só houvesse o silêncio e as dúvidas sobre nossos sentimentos, sobre a gente, sobre outras pessoas, sobre o mundo e o frio que aqui fazia.
"Vamos lá pra fora?" ela se ergueu.
"Pode ser."
Já era noite. Sentamos em um banco. Ela levou os joelhos ao peito e deitou a cabeça em meu ombro dessa vez.
"Aqui dá pra ver bastante estrelas, diferente da cidade," eu comentei, procurando aquecer minhas mãos.
Ficamos com a companhia dos grilos, e à nossa frente não conseguíamos enxergar o que estivesse a pelo menos três metros de distância. Não sei se era meu coração ou o dela que fazia tanto barulho, pois eu me acalmara, mesmo ainda desejando beijá-la. Até que enfim se levantou, e o que parecia durar uma eternidade foi nada menos do que dez minutos de prazer, de uma felicidade e compreensão do tamanho de Deus.
"Vou entrar, tô ficando com frio."
"Tudo bem," eu respondi. "Vou ficar mais um pouco aqui fora, aproveitando a noite e o clima."
"Quando você for, pode deitar lá na sala, arrumei pra você uma cama ao meu lado, e tem bastante espaço."
Respondi com um sorriso e voltei à minha contemplação estelar. Respirando fundo o ar puro do campo, ignorando as ruas do Rio de Janeiro por mais alguns minutos antes de deitar em minha cama com algum tipo de carência saciada, um sentimento revisitado após primaveras que um dia cheguei a acreditar que jamais voltaria a ter.
Não se tornara uma paixão platônica, tampouco uma queda. A forma de como ela me olhava me deixava confuso, assim como se expressava verbalmente em diversos assuntos que jamais imaginei debater com primos biologicamente mais próximos. Mesmo que nós nos chamássemos assim, com o pronome familiar, o afeto me dado era além do que eu estava acostumado com parentes da minha idade.
Nesta específica noite foi assim que adormeci. Com dúvidas, mas, de alguma forma estranha, amado.
E se?
Continua sendo minha maior inconstância em arriscar, em cair nos desafios cujo o lado obscuro, de portas que me nego a abrir, trabalha à todo vapor. E foi dentro de uma dessas salas que fantasiei com os lábios carnudos e convidativos de uma prima com, possivelmente, vinte por cento de parentesco.
Em qualquer lugar que ela pisa os pés, a atenção do ambiente se tornava sua e apenas. Pelo menos dentro de minha cabecinha, no sorriso que nascia em meu rosto ao vê-la ou ouvir seu sotaque, sendo mais uma das coisas a abalar meu mundo, e, diferente da opinião popular masculina, eu pouco me importava por ela recentemente ter se comprometido à maternidade. Ainda não tive o prazer de conhecer sua criança, mas as fotos declaravam o quão fofa realmente poderia ser, vistas pelas redes sociais.
Uma lembrança recorrente que tenho, é a de quando estávamos no interior de sua cidade, na chácara de sua avó, para ser mais específico. Sua avó, prima de meu pai. Para continuar na multidão, preciso ocasionalmente ter minha solidão. Com isso, me recolhi para uma leitura deitado na cama do quarto que me foi designado. Me perdia nas palavras feito um cego dentro de um milharal, mas sendo uma coisa boa, afundando ainda mais no mundo proposto do livro. Até a hora que ela entrou.
"Tá lendo, primo?" ela me perguntou, mesmo me vendo com o livro em meu colo.
"Sim," eu virei meu olhar para sua atenção, para seus pequenos olhos castanhos.
"Posso ficar aqui contigo? Não vou te atrapalhar?"
"Tá tranquilo," respondi me ajeitando na cama. "Pode ficar, sim." Ela deu a volta e deitou ao meu lado, apoiando a cabeça em meu braço. Assim ficamos por meia hora, e foi tanta paz e conforto junto de rápidos batimentos cardíacos dentro de meu peito que senti ao mesmo tempo. A garota mexia no próprio celular, mas eu sabia que seus olhos se arrastavam por minha pele entre uma frase ou outra que eu lia e uma palavra ou outra que ela escrevia em suas mensagens. Talvez estivesse me analisando, tentando saber o que passava em minha cabeça, projetando o próximo movimento e como eu reagiria com ele. Enquanto isso, tudo o que eu queria era que ela deitasse em meu colo, mesmo que só houvesse o silêncio e as dúvidas sobre nossos sentimentos, sobre a gente, sobre outras pessoas, sobre o mundo e o frio que aqui fazia.
"Vamos lá pra fora?" ela se ergueu.
"Pode ser."
Já era noite. Sentamos em um banco. Ela levou os joelhos ao peito e deitou a cabeça em meu ombro dessa vez.
"Aqui dá pra ver bastante estrelas, diferente da cidade," eu comentei, procurando aquecer minhas mãos.
Ficamos com a companhia dos grilos, e à nossa frente não conseguíamos enxergar o que estivesse a pelo menos três metros de distância. Não sei se era meu coração ou o dela que fazia tanto barulho, pois eu me acalmara, mesmo ainda desejando beijá-la. Até que enfim se levantou, e o que parecia durar uma eternidade foi nada menos do que dez minutos de prazer, de uma felicidade e compreensão do tamanho de Deus.
"Vou entrar, tô ficando com frio."
"Tudo bem," eu respondi. "Vou ficar mais um pouco aqui fora, aproveitando a noite e o clima."
"Quando você for, pode deitar lá na sala, arrumei pra você uma cama ao meu lado, e tem bastante espaço."
Respondi com um sorriso e voltei à minha contemplação estelar. Respirando fundo o ar puro do campo, ignorando as ruas do Rio de Janeiro por mais alguns minutos antes de deitar em minha cama com algum tipo de carência saciada, um sentimento revisitado após primaveras que um dia cheguei a acreditar que jamais voltaria a ter.
Não se tornara uma paixão platônica, tampouco uma queda. A forma de como ela me olhava me deixava confuso, assim como se expressava verbalmente em diversos assuntos que jamais imaginei debater com primos biologicamente mais próximos. Mesmo que nós nos chamássemos assim, com o pronome familiar, o afeto me dado era além do que eu estava acostumado com parentes da minha idade.
Nesta específica noite foi assim que adormeci. Com dúvidas, mas, de alguma forma estranha, amado.