O Adeus da Mocidade
Meus ídolos do Rock ‘n’ Roll costumavam me dizer em suas músicas que “eu não sou um escravo de um mundo que não dá a mínima pra mim” e eu repetia freneticamente essas palavras enquanto cantava músicas no banho, mas agora meus banhos não têm músicas, eles são preenchidos de vazio e de dúvidas. Eu pensava ser um rebelde, que iria encarar o mundo, que iria devorar o mundo, que eu tinha garras e dentes pra isso, eu não passava de um tolo! O mundo é um monstro indestrutível e o mais ameaçador possível, do tipo que não se pode fugir dele. Não se pode fugir da realidade do mundo, ele vai correr atrás de você, vai te comer, e te digerir, vai te consumir aos poucos, no seu trabalho, na monotonia da sua vida enfadonha que, de pouco em pouco, não vai fazer mais sentido, vai te consumindo e te consumindo e te consumindo até que você fique completamente cansado de viver, exausto, e quando não aguentar mais a existência você vai cair nas drogas, no alcoolismo, no fundamentalismo ou simplesmente vai se suicidar.
Somos escravos de um mundo que não dá a mínima para nós. De um sistema que vai sugar toda a nossa potência, toda a nossa vontade, de um sistema que vai destruir os nossos sonhos e a nossa esperança, somos escravos de um sistema que não liga se somos humanos ou não, se somos falhos ou não, se somos de ferro ou de carne ou se temos qualquer sonho. Somos escravos de um monstro invisível de garras imaginárias que vai nos consumir até a morte. O Sistema é um Sistema Digestório, que vai primeiro nos mastigar, depois nos engolir, para nos digerir aos poucos e finalmente seremos um corpo excretado num caixão, pálidos e sem vida, e sem ter vivido o suficiente e sem ter realizado nossos sonhos e sem ter existido de verdade, e sem o brilho nos olhos. Ah! O brilho nos olhos que tinhamos na infância, na adolescência e que foi se perdendo com o passar do tempo, fomos ficando cada vez mais velhos e mais velhos, e mais cansados e mais tristes e mais depressivos até que isso, essa lugubridade, esse sentimento soturno, essa morbidez foi tudo o que nos restou! Éramos felizes e sonhadores, mas infelizmente vivemos demais, e vivendo demais fomos consumidos por um monstro. Ah! Aos 15 anos tudo é infinito como dizia Machado de Assis, mas o infinito, agora percebo, nunca dura para sempre…